Queria abrir um debate legal sobre algo que vem me tirando o sono.
Frequentemente me vejo em conversas com designers que não aguentam mais ser confundidos. O papo é sempre o mesmo: “me contrataram como UX, cheguei lá e passo o dia desenhando telas e mais telas…”.
Ao buscar um UX designer, tive muita dificuldade em achar um profissional que se colocasse corretamente (na minha percepção) como um especialista em entender o usuário. Encontrei portfólios lindos, de encher os olhos, mas com foco em desenho de interfaces. Apesar dos candidatos se colocarem como UX, não tinham um caso de estudo detalhado em seu site.
As empresas, por outro lado, tem culpa nisso também. Insistem em contratar UX designers para desenhar telas e anulam todo o processo investigativo inerente ao designer de experiencia do usuário.
Nessas situações eu me perguntava: será que eu to maluca e não sei mais nada sobre a minha profissão, ou tá rolando uma grande confusão na cabeça do pessoal?
UX e UI caminham juntos. Fato. Logo, Não há problema em ser um profissional híbrido. Faz parte do jogo. Mas, não podemos confundir as atividades de cada um. Percebo esta confusão em muitas vagas de emprego que vejo por aí. E isso é um problemão! Como cite anteriormente, gera uma frustração gigantesca para o profissional recém contratado, um risco de alta rotatividade na vaga e um ponto de atenção nos processos e nas definições de papeis dentro dos projetos.
Mas, Helena, qual a diferença entre esses papeis dentro do design? A dica é fácil: basta olhar o nome de cada um.
User Interface Designer ou em pt_br: Desenhista de Interface do Usuário
Como o próprio nome diz, esse ou essa profissional é responsável pela criação da interface final que o usuário terá acesso. É o guardião da identidade da marca e o mestre da aplicação do style guide. Ou seja, se preocupa com todos os aspectos visuais do projeto e deve ter na ponta da língua as melhores práticas de desenvolvimento de interfaces. É a referência no projeto sobre todos os aspectos ligados a marca do produto ou serviço. É fundamental que tenha uma linguagem gráfica consistente, apurada, criativa e um bom repertório visual. Também podemos colocar aqui uma outro nível de habilidade de desenvolvimento de interfaces que tem ganhado vida: as microinterações.
Resumão das responsabilidades do UI Designer:
Aplicar as diretrizes de identidade de forma correta e consistente dentro do projeto;
Caso necessário, elaborar e desenhar a identidade visual do projeto;
Ser o criador e guardião do Style Guide da aplicação;
Desenvolver componentes para as telas;
Saber as diretrizes e boas práticas de construção de telas;
Participa do processo de desenvolvimento de wireframes e protótipos;
User Experience Designer ou em pt_br: Desenhista de Experiência do Usuário
A pegada desse cara é outra. Com foco em entender o usuário e suas necessidades, o UX designer desvenda os desafios a serem superados em um projeto. É responsável por criar hipóteses, investigar, prototipar e fazer a ponte entre o negócio e seus clientes de uma forma empática e orgânica. Eu diria que pra essa figura, a empatia é a ferramenta mais importante de todas. Ele deve coletar dados, se sensibilizar e compartilhar com o time as suas descobertas. E aqui entram outros denominações como UX researcher, ux writer…
Resumão das responsabilidades do UX Designer:
Trazer questionamentos e visões sob a ótica do usuário;
Alinhamento com a área de negocio para estruturação do projeto;
Entendimento das necessidades e especificidades do público alvo;
Participação ativa em designs sprints, inceptions e tudo mais;
Pode criar wireframes e prototipos para testes;
Pesquisas para validação de hipóteses com os usuários;
Ué, mas o visual não impacta diretamente na experiência do usuário?
Sim, meu caro leitor. Você está certo. Por isso que comentei anteriormente sobre os profissionais híbridos. Essa que vos escreve é um exemplo vivo dessa especie. O problema é que, ao misturarmos as denominações, corremos o risco de ensinar errado para as pessoas que não são da nossa área o que realmente fazemos. Ai, o UX vira um robô “fazedor" de telas e atropela os processo necessários para que o UI construa um projeto consistente.
O ideal seria um trabalho como uma dupla de criação: UX e UI, juntos desde a concepção do projeto, mas com a cabeça e o foco em suas especialidades. Um designer de interfaces com os insumos corretos criará experência visuais mais interessantes, assertivas e acessíveis e isso só será possível com um bom trabalho do UX designer.
E com esse texto também deixo uma dica valiosa pra quem está em busca de algo como UX designer: coloque casos de estudos completos em seu portfólio. Explique as metodologias que usou e a forma que você estruturou o projeto, fez as pesquisas e as dinâmicas. Mostre que você fez seu papel e esteve em contato direto com o usuário. É muito legal um UX ser um ótimo designer de interface, mas ele não pode ser somente isso.
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